quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Os idiomas e a educação

Até não muito tempo atrás, o único idioma oficial de Uganda era o inglês. Com a criação da comunidade do Leste Africano, foi decidido que a língua oficial do bloco seria o Swahili. O idioma foi então instituído como segunda língua oficial do país.

Em Uganda há 62 grupos étnicos, sendo 23 ou 24 os maiores grupos. Cada um com seu próprio idioma, cultura, e costumes. Em Kampala, por exemplo, fala-se Luganda. "Olá" é "Oly otia". Mas em Gulu, terra dos Acholi, eles dizem "Cop ango".

Diante desse mosaico, o inglês foi escolhido como idioma para unificar o país. E apesar de o Swahili ser a outra língua oficial, ele não é a língua materna de ninguém. Ele é falado no Quênia e Tanzânia, mas não em Uganda. E as pessoas tem um pouco de rejeição em aprendê-lo, por razões históricas.

No nosso grupo tínhamos um neo-zelandês e um australiano. Os dois diziam que era impressionante o inglês que as pessoas falavam, comparável ao de países com língua inglesa materna. O fato é que em Uganda as crianças começam a aprender inglês desde a pré-escola.

Aos 6 anos de idade, as crianças começam o primário. São 7 anos de escola primária, mais 6 de secundária, e então a universidade. Até a terceira série do primário, o P3, as aulas são no idioma local. Do P4 em diante, é tudo em inglês.

Nas nossas visitas às escolas, só com os pequeninos tínhamos dificuldade de conversar. Os outros todos falavam um inglês impecável.


E já que falei das escolas, quero contar algo que aconteceu em Gulu. Como não tínhamos nenhuma atividade programada para o domingo, meu time resolveu passear pela cidade (tínhamos nos dividido em times de 4 pessoas, lembram?). Andamos cerca de 300 metros até o fim da avenida na frente de nosso hotel, e ela terminava em uma vila de cabanas, daquelas bem tradicionais mesmo. Como estas.


Junto da vila havia uma escola. O portão estava aberto, e entramos. Algumas crianças da vila nos seguiram, e ficavam brincando de se esconder toda vez que virávamos para olhá-las. A escola era muito parecida com as outras escolas que visitamos.

E dentro de uma sala de aula, havia uma menina. Sozinha, ela estava escrevendo com giz no quadro-negro. Meus amigos continuaram andando, mas eu resolvi ir até lá falar com ela. Bati na porta, e perguntei se ela era professora.

Ela respondeu que não, disse que estudava lá e estava no último ano da escola. Presumi que tinha uns 17 anos. Então perguntei porque ela estava ali, sozinha, escrevendo na lousa num domingo. E ela me contou que todos os finais de semana ela vinha para a escola e escrevia na lousa tudo que tinha aprendido durante aquela semana. Escrevia na lousa e depois apagava. Perguntei se ela queria continuar estudando depois que terminasse a escola, e ela disse que sim.


Sabe, às vezes eu acho que ainda há Esperança para a humanidade. Ainda há, sim. Às vezes.

2 comentários:

  1. Quem dera se no Brasil as pessoas aprendessem inglês também...Apesar dos pesares, pelo menos, nós brasileiros temos um idioma nacional própio e que todos os cidadãos usam (errado ou certo, ainda sim falam portugês brasileirokkkk)

    ResponderExcluir
  2. Que interessante essa questão das línguas! As vezes fico pensando qual língua se fala em cada país africano. Não memorizei todas as colonizações então fica difícil as vezes de me lembrar...
    Linda cena. É, há muitas coisas que nos faz acreditar que há esperança, é preciso buscar este tipo de exemplos!
    Beijo,
    Marília

    ResponderExcluir